Mel, cogumelos, leitelho e uma carne com o seu quê de outono.
Estou numa daquelas semanas de levantar cedo, deitar tarde e apagar 17 fogos por dia. As coisas nem sempre vêm, mas quando vêm gostam de vir todas ao mesmo tempo. Nada de doses homeopáticas.
É evidente que, com tanta coisa e tanta coisinha, o tempo para cozinhar é pouco. Aliás, o tempo é pouco, ponto. Para cozinhar e para tudo. São obras em casa, é um bolo de anos que mais parece o meu projeto de vida, é um jantar de aniversário com tudo o que tal coisa envolve e que se tornou numa complexa teia de aldrabices (porque é surpresa, note-se), é família que chega a Lisboa, é presentes para ir buscar, é exames de rotina... Tenho muitos post-its digitais e outros tantos na cabeça. E tenho aquela sensação permanente de que me está a escapar qualquer coisa.
No meio desta lufa-lufa, do vai aqui/segue para ali/corre para acolá/compra isto/faz aquilo/liga a X/avisa Y/vai ter com Z, escusado será dizer que as experiências na cozinha ficaram em stand-by por estes dias. Para a semana volta tudo ao normal, mas nesta é difícil conseguir mais do que uma sopa ao jantar e um peixinho grelhado ou uma salada ao almoço. Ainda assim, ontem deu para um pouco mais, naquele que foi o meu último intervalo sem afazeres até sábado. Por um pouco mais entenda-se estufar carne, improvisando em tudo o resto – precisava de espaço no frigorífico e de gastar várias coisas. E foi assim que saiu esta preciosidade. Ervas, leitelho, mel, vinho tinto... Tudo em bom! Ao calhas, mas bom. :) É um prato com qualquer coisa de outono, na cor e até no sabor. No meio do caos e com algum cansaço à mistura, foi revigorante fazê-lo e comê-lo.
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Carne estufada com leitelho, mel e cogumelos
Ingredientes [para duas pessoas]:
400 g de carne de vaca para estufar em cubinhos
1 cebola média
2 dentes de alho
1 folha de louro
2. c de sobremesa de tomilho
2 c. de sobremesa de segurelha
2 dl de vinho tinto
1 cenoura grande
12 mini tomates-chucha
Azeite, sal e pimenta preta q.b.
3 dl de leitelho
3 c. de chá de mel
200 g de cogumelos marron
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A preparação é muito simples. Basta colocar, num tacho, uma cama de cebola em meias-luas com o azeite. Por cima vai pôr a carne e todos os outros ingredientes, menos o leitelho, o mel e os cogumelos. A cenoura vai cortada em rodelas fininhas, ou meias-luas, e os tomates são cortados a meio e espremidos lá para dentro.
Quando já tiver tudo no tacho, tapa-o e leva ao lume, para estufar. De início pode ter o lume um bocadinho mais forte; depois, reduza e deixe estufar lentamente, para que a carne não fique dura. Vá mexendo de vez em quando.
Entretanto, arranje os cogumelos e reserve. (Eu parti os meus em quatro, porque gosto de apanhar aqueles pedaços gordinhos e suculentos.)
Cerca de uma hora depois, apague o lume, deixe arrefecer ligeiramente e junte o leitelho, aos poucos. (O dito tem alguma tendência a talhar, daí que possa não ser boa ideia fazer isto com o lume aceso.) Junte também o mel e misture. Por fim, entram os cogumelos.
Leve novamente ao lume, para o molho já com o leitelho apurar e os cogumelos cozinharem. Uns dez minutos devem chegar.
E está prontinho!
Notas:
* Usei leitelho porque tinha sobrado de uma outra receita aqui há uns dias. Nem sabia muito bem como ia correr com a carne, mas não correu mal – pelo contrário! Seja como for, pode substituir por natas, cremes vegetais ou iogurtes, sem problema. Se quiser mesmo experimentar com o leitelho, há à venda no supermercado do El Corte Inglés. E já agora: há uma maneira de fazer leitelho em casa, a partir de leite e sumo de limão. Eu já experimentei, mas não fiquei absolutamente convencida. Tenho de voltar a testar.
* Cogumelos marron ou outros que aí tenha ou de que goste mais! Eu tinha destes e por isso foi destes que usei.
* Noutras circunstâncias teria feito isto com tomate em calda. Mas tinha ali uns tomates cherry pequeninos e bons mas bons! Por isso...
* Não sei se é fácil encontrar segurelha à venda. Eu costumo comprar no "meu" talho, que tem um expositor cheio de saquinhos de ervas. São biológicas, secas ao natural e mesmo muito saborosas (não têm nem um bocadinho que ver com as que se compram nos supermercados). Claro que serem frescas é o ideal, mas à falta de melhor...